terça-feira, 18 de setembro de 2007

Palavra do Professor


Os educadores não estão apáticos à situação educacional encenada em nosso país. Desmotivados, no mínimo. E com justa causa.

Entre os dias 13 e 16 de setembro, ocorreu o Fórum Mundial de Educação (FME) Alto do Tietê. Sediada em Mogi das Cruzes, SP, mais de 20 mil pessoas, em sua maioria atuantes do ensino público de 11 municípios das redondezas, compareceram às palestras e debates para trocar experiências e pôr em foco “O protagonismo na diversidade”, tema principal do FME deste ano.

Desde a multiplicidade de saberes e conhecimentos presentes na América Latina até a contextualização do estudante no currículo escolar pré-ditado pelo Ministério da Educação, educadores e profissionais da área se dispuseram a encarar de frente a realidade vivida dia-a-dia em sala de aula e, demasiadas vezes, negligenciada: a heterogeneidade do ambiente escolar.

Nivelar culturalmente pessoas de realidades tão distintas é um trabalho difícil. Em São Paulo, berço da desigualdade social, ser professor de escola pública é uma missão extraordinária. Além dos problemas de aprendizagem por déficit de conhecimento, ocasionado justamente pelos diversos contextos encontrados numa sala de aula de qualquer escola pública da Zona Sul de SP, o professor tem que lidar com um problema imposto pela própria instituição de ensino: o currículo escolar.

A professora do Instituto de Artes, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Ivete Maria Ávila Fernandes lembra de seus tempos como educadora de rede municipal de ensino de São Paulo. Num certo momento aplicou em aula uma música do compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos, as Bachianas Brasileiras, que trata sobre o trem. No entanto, considerando que a realidade dos transportes ferroviários não abrangia nenhum deles, os alunos pouco entenderam a obra. Em conjunto com a escola, Fernandes firmou um projeto pedagógico extracurricular abordando desde os sons até o processo de industrialização permeado pelo trem, e dessa forma agregou um sentido à atividade discutida em sala.

"Na escola, o que manda ainda é a cartilha. A instituição pega o livro didático, aplica por ordem de capítulo e quando chega quase no fim do ano, entra em pânico ao perceber que não chegou nem na metade", comenta Cláudio Sanches, consultor do projeto Aprender a Ser, também presente na FME.

O sistema educacional atual não inclui nem o aluno e nem o professor. Não é só a baixa remuneração e as duplas, triplas jornadas que desanimam os mestres. Podados da capacidade de pensar e criar, tornam-se marionetes de uma peça com roteiro estagnado.



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7 comentários:

Anônimo disse...

ae bruna essa parada de livros didaticos é um bem necessario para que o professor faça sua elaboraçãoo da aula dependendo da série. Mas como bem citado ai no texto é quase impossivel se realizar esse planejamento, principalmente nas escolas publicas. E o porque/...é que quando um professor da série anterior não consegue esse feito., o próximo professor do mesmo jeito terá dificuldade em aplicar seus conteúdos, ja que não foi passado todos os temas em um ano. Atrapalhando o desenvolver do conhecimento do aluno...tendo dificuldades em aprender o novo tema. Por isso o professor deve usar seu jogo de cintura, aplicando uma aula não apenas no esquema dos livros didaticos. Os professores tem que se unir para sim juntos desenvolver novas formulas de ensinamento

Anônimo disse...

A maior dificuldade para os professores atualmente, é seguir religiosamente o calendário escolar. As instituições de ensino fazem um cronograma sem importar-se com a vivência em sala. Sugadas pelo sistema, distribuem uma educação de má qualidade e, em determinadas vezes, sem utilidade.
Para desenvolver estudantes com autonomia de posicionamente, é necessário adequar o currículo escolar lecionado ao "hábitat" dele.
É preciso autorização para ser real em palavras. Crianças e jovens que sentem na pele o descaso do Governo e da sociedade podem e devem conversar sobre o assunto claramente, abertamente. Sentir na pele que é mais difícil, já é feito.

A terceira intifada! disse...
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Anônimo disse...

A Escola é um campo de forças e, hoje em dia, com os processos crescentes de informatização e educação extra-escolar, penso que o desafio do professor é extraordinário.

Eu penso que o professor é um agente cultural: ele adota caminhos diversos, de acorda com sua formação, pressupostos, etc.

Portanto, atitudes como este blog, professores com um pouco de ousadia, oferecendo aulas mais dinâmicas, podem contaminar a mesmice.

Bruna Gonçales disse...

É dificil pensar pelo lado do professor.
Não há como culpá-los.
Se hoje eles assumem um papel de canal de informação e não o de conscientizadores, a culpa não é deles.
Como desenvolver-se profissionalmente dentro de um país que não concede as mínimas condições??
Para estudar BEM é preciso pagar. Para pagar é preciso receber. Para receber é preciso trabalhar.
Só nesse contexto dezenas de problemas se acumulam.
A falta de tempo para se dedicar ao aprofudamento da área, a falta de incentivos públicos em ministrar cursos gratuitos para os educadores, o alto custo das Universidades e dos cursos profissionalizantes privados.
Aí qual a solução?
Lançar ao sistema professores mal preparados. Afinal, eles precisam de trabalho e o que não falta é gente precisando estudar.
Tá feito! Educação mais ou menos, para um povo mais ou menos.

Até concordo quando é questionado o preparo do educador brasileiro.
Mas nunca, jamais, admitirei ouvir que é culpa deles.

Bruna Gonçales disse...

Os mestres...
Faz tempo que esses não são mais reconhecidos.

Como já citado pela Carolina Scorce nesse blog, qualquer profissional desmotivado trabalha sem amor. Por que com os professores seria diferente?

A terceira intifada! disse...
Este comentário foi removido pelo autor.